segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Opressão às Mulheres Muçulmanas?

Fonte: Blog Dúvida Metódica


Quando fizemos a pesquisa pedimos para as pessoas falarem as palavras que lhes vinham a mente para a expressão islamismo. Houveram muitas repetições para a questão da mulher, no sentido de opressão e violência. Quando fomos ao centro e sentamos e conversamos com mulheres reais e que são muçulmanas, pudemos entender mais sobre o que é verdade e mentira sobre essa "opressão". Pelo menos para as mulheres muçulmanas da Bahia.

Primeiro, vamos desmistificar algumas coisas: as mulheres muçulmanas da Bahia podem se divorciar se o casamento não esta dando certo, assim como mulheres católicas poderiam fazer; quando se separam, se tem filhos, as leis do Brasil são seguidas, ou seja, os filhos permanecem com as mães; as mulheres divorciadas podem se casar novamente. Essas são algumas questões que pairam no imaginário das pessoas, que as mulheres teriam obrigação de ficarem casadas, ou que perderiam os filhos ao separar e não se casariam novamente.

Agora vamos falar da opressão. Até que ponto uma mulher é oprimida por sua roupa? Seu véu? Eu (Janaína), passei pela experiência de vestir a roupa das muçulmanas quando fui ao centro e como toda ocidental pensei que seria desconfortável e que faria mais calor do que já estava fazendo, mas a sensação foi outra, achei impressionante como aquelas vestimentas são confortáveis e frescas.

Outra coisa interessante que conversamos no centro foi como as mulheres se sentem com as roupas mais folgadas e longas e o véu na cabeça. Elas disseram se sentir belas, livres para serem quem são, sem passarem por situações constrangedoras como os famosos "olhares" masculinos na rua e que se sentiam bem também por não haver uma pressão tão grade quanto ao corpo, no sentido de estar magra, malhada, maquiada e todas essas pressões que a mulher ocidental sofre.



Então, voltando o olhar para a mulher brasileira que sofre a pressão, ou posso dizer, opressão da sociedade de ser sempre magra, com músculos, cabelo liso, depilada, maquiada, sem rugas e jovem para poder usar as roupas que estão cada vez menores e mais justas. Opressão essa que é sentida até pelas crianças!

Fonte: Samara Sampaio Make Up


Então te pergunto: A opressão só existe no islâmismo?

A opressão existe em toda sociedade, todos os membros são oprimidos, mulheres e homens - em diferentes circunstâncias, claro. Todas as sociedades tem regras de conduta e formas e viver que são o ideal para as pessoa a seguem, porém por que esse ataque a apenas um modo de ser? Acredito que essa vontade de levar o ideal ocidental como ideal para todas as outras culturas, oprimindo-as, não é a melhor opção. É preciso respeitar o outro e olhar para si e perceber que a própria cultura também não é perfeita.

Este é um convite para refletir, a se por no lugar do outro e perceber que para saber sobre a opressão exercida pela religião as mulheres muçulmanas é preciso ouvi-las, e não ouvir o que pessoas que não se aproximaram desta realidade,


domingo, 14 de dezembro de 2014

Islamismo, Mulheres e Direitos



Uma referência muito presente no discurso dos islâmicos de Salvador é a Malala Yousafzai. Neste vídeo ela separa a religião do conservadorismo, machismo, racismo, dentre outros tipos de opressões existentes. Malala ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2014.








sábado, 13 de dezembro de 2014

Revolta dos Malês


Como o grupo do CCIB sempre faz referência ao movimento negro e do grupo dos malês para contar a história dos islâmicos da Bahia e da instituição, resolvemos trazer um pouco dessa história.

Rap dos Malês
Composição: Alice Dias Lima de Santana

A Revolta dos Malês
Vai mostrar para vocês
Como tudo começou quando o negro aqui chegou
Ambulantes, carpinteiros, alfaiates e pedreiros
Pra mostrar o seu valor
O movimento representa uma evolução
Apesar dos incentivos
Não foi possível
Alcançar seus objetivos
Apesar de utópicos
Não faltavam
Incentivos.



Nas Palavras do Historiador baiano João José Reis:

"Na madrugada de 25 de janeiro de 1835, um domingo, aconteceu em Salvador uma revolta de escravos africanos. O movimento de 1835 é conhecido como Revolta dos Malês, por serem assim chamados os negros muçulmanos que o organizaram. A expressão MALÊ vem do IMALÊ, que na língua iorubá significa muçulmano. Portanto, os Malês eram especificamente os muçulmanos de língua iorubá, conhecidos como NAGÔS, na Bahia. Outros grupos, até mais islamizados como os Haussás, também participaram do levante, porém contribuindo com muito menor número de rebeldes.
        
A revolta envolveu cerca de 600 homens. Os rebeldes tinham planejado o levante para acontecer nas primeiras horas da manhã do dia 25, mas foram denunciados. Uma patrulha chegou a uma casa na ladeira da Praça onde estava reunido um grupo de rebeldes. Ao tentar forçar a porta para entrarem, os soldados foram surpreendidos com a repentina saída de cerca de 60 guerreiros africanos. Uma pequena batalha aconteceu na ladeira da Praça, e em seguida os rebeldes se dirigiram à Câmara Municipal, que funcionava no mesmo local onde funciona ainda hoje.

A Câmara foi atacada porque em seu subsolo existia uma prisão onde se encontrava preso um dos líderes malês mais estimados, o idoso Pacifico Licutan, cujo nome muçulmano era Bilal. Este escravo não estava preso por rebeldia, mas porque seu senhor tinha dívidas vencidas e seus bens, inclusive Licutan, foram confiscados para irem a leilão em benefício dos credores.O ataque à prisão não foi bem sucedido. O grupo foi surpreendido no fogo cruzado entre os carcereiros e a guarda do palácio do governo, localizado na mesma praça.

Daí este primeiro grupo de rebeldes saiu pelas ruas da cidade aos gritos, tentando acordar os escravos da cidade para se unirem a eles. Dirigiram-se à Vitória onde havia um grupo numeroso de malês que eram escravos dos negociantes estrangeiros ali residentes. Após se unirem nas imediações do Campo Grande, os rebeldes atravessaram em frente ao forte de São Pedro sob fogo cerrado dos soldados, indo dar na Mercês, de onde retornaram para o centro da cidade. Ali atacaram um posto policial ao lado do Mosteiro de São Bento, outro na atual Rua Joana Angélica (imediações do Colégio Central), lutaram também no Terreiro de Jesus e outras partes da cidade. Em seguida desceram o Pelourinho, seguiram para a Ladeira do Taboão e foram dar na Cidade Baixa. Dali tentaram seguir na direção do Cabrito, onde tinham marcado encontro com escravos de engenhos. Mas foram barrados no quartel da cavalaria em Água de Meninos. Neste local se deu a última batalha do levante, sendo os malês massacrados. Alguns tentaram fugir a nado e terminaram se afogando.

A revolta deixou a cidade em polvorosa durante algumas horas, tendo sido vencida com a morte de mais de 70 rebeldes e uns 10 oponentes. Mas o medo de que um novo levante pudesse acontecer se instalou durante muitos anos entre os seus habitantes livres. Um medo que, aliás, se difundiu pelas demais províncias do Império do Brasil. Em quase todas elas os jornais publicaram notícias sobre o acontecido na Bahia e as autoridades submeteram a população africana a uma vigilância cuidadosa e muitas vezes a uma repressão abusiva. (...)"



 

O Grupo





A influência religiosa islâmica foi trazida para o Brasil pelos portugueses, através dos Mouros de Portugal e dos negros escravizados provenientes de países de tradição islâmica dominados por árabes como Nigéria, Benin e Guiné conhecidos como malês. 


No Brasil o grupo do Centro Cultural Islâmico da Bahia é um grupo coeso, que tem regras e papéis sociais bem definidos segundo consta nos livros sobre a religião que são distribuídos, e essas regras são acatadas pelos integrantes do grupo.

Alguns dos livros distribuídos no trabalho de divulgação da religião islâmica pelo CCIB.

Há um líder religioso, o Sheikh, que tem papel fundamental na construção do conhecimento sobre as regras e papéis do grupo. O centro islâmico tem papel principal na vida de seus integrantes, posto que organiza a vida dos integrantes no sentido político, social e religioso. O centro apresenta alguns cargos administrativos. Segundo o grupo, independente da pessoa ser médico, advogado ou o que for, lá dentro são iguais, todos lavam o prato, limpam o ambiente, não há uma hierarquia neste sentido.

O centro apresenta importância, pois propicia um ambiente próprio para a união de pessoas que fazem parte do mesmo grupo religioso, e que tem objetivo comum de estudar e aprender sobre o islamismo, o aprendizado da língua árabe também faz parte da difusão da religião islâmica. Com relação a frequência, o grupo disse que a participação da mulher no centro não é obrigatória, já para os homens há essa relação de obrigatoriedade. 

Para entrar no centro islâmico é simples, a pessoa precisa repetir três vezes a frase: “Lá ilaha ilá Allah Mohamad Rasul lillah” –  algo que traduz-se como “Não existe Deus a não ser Deus e Muhammad é seu profeta”. 

Os pilares da religião, segundo o grupo, são: 
Crença em Deus único; Crença nos anjos; 
Crença nos livros sagrados; 
Crença nos mensageiros e profetas; 
Crença na ressureição e juízo final e 
Crença na predestinação. 

No centro islâmico há atividades todos os dias, menos aos domingo: De segunda a sexta há diversos cursos funcionando de 08:00 às 22:00,  e aos sábados de 08:00 h às 12:00. Há cursos sobre a cultura islâmica e a língua árabe. Há atividades culturais nos sábados. Além de uma biblioteca aberta ao público.

Os valores e crenças do Islamismo, de uma forma geral, não são coesas, pois apresenta diversos subgrupos, onde os principais são sunitas, xiitas e surfismo, porém estima-se que existem mais de 100 subgrupos no islamismo. Dentro de cada subgrupo há interpretações diferentes, que muitas vezes se assemelham ou discordam de forma radical do outro, porém dentro dos subgrupos. No grupo que pesquisamos, o Centro Cultural Islâmico da Bahia (CCIB) a linha seguida é sunita.

Há diferença na prática do islamismo daqui e de outros lugares, no sentido que aqui, segundo o grupo, os islâmicos precisam ser pragmáticos, ou seja, fazer uma adaptação a cultura local diante à jurisdição da religião. Por exemplo, como estão na Bahia, há uma flexibilidade na forma de considerar ou não considerar algumas coisas. O CCIB há uma predominância de adeptas mulheres e por isso há uma dificuldade para que haja relacionamentos entre casais muçulmanos, no sentido de encontrar um marido muçulmano. Nesse sentido, algumas mulheres utilizam redes sociais, como sites de relacionamentos de relacionamento voltado para o público muçulmano (o que falamos mais abaixo).

Para frequentar o centro não é obrigatório usar o véu, exceto no momento da oração, onde é preciso que as mulheres cubram o corpo, de forma que as curvas, e parte das suas cabeças estejam coberta. Para os homens a utilização de roupas compostas e boa educação é suficiente, segundo o grupo. 

Pudemos observar que alguns homens assistiam o Sermão estavam com roupas tradicionais muçulmanas. Eles prezam bastante pela concentração para ouvir o que é dito pelo Sheikh.

Quando apresentamos a escala de distância social, não foi comentado pelo grupo uma dificuldade de encontrar trabalho, nem estabelecer relacionamentos de maneira geral. Mas houve dois casos em que os integrantes do centro relataram uma "diferença": um integrante contou que a sogra dizia "pra quê arrumar essas religiões que não é da sua cultura?", "pra que buscar uma religião lá de longe?"; e um outro integrante disse "as pessoas não sabem minha religião, mas eu digo a todo mundo." (!!!), daí ele contou que diz que é islâmico, mas as pessoas dizem "ah, pára cara", "fala sério", ou seja, as pessoas teimam em não acreditar que ele é islâmico. No caso do surgimento de alguma dificuldade nesse aspecto, os integrantes se mostram solidários em articular estratégias para combater essa dificuldade.  




Islamismo, Mídia e Violência


Como previsto nas hipóteses iniciais, o tema violência apareceu de maneira expressiva na pesquisa sobre representações sociais dos islâmicos. Violência contra à mulher, guerras, terrorismo e intolerância religiosa foram alguns dos itens explícitos nas respostas do participantes da pesquisa.

Durante a conversa que tivemos com o grupo de islâmicos do CCIB, eles fizeram uma diferenciação entre a mídia local e a mídia sulista. Uma islâmica disse que a mídia era sionista, no sentido de estar corroborando com uma ideologia político-filósofica judaica, execrando a imagem dos muçulmanos. Assim, dizem não se sentirem respeitados pela grande mídia.

Afim de abrir espaço para ao direito de resposta, sendo que, segundo o grupo, a grande mídia não os contempla de maneira adequada, trazemos aqui um vídeo de um programa exibido na TVE BA, o TVE Debate, onde Rabino Uri Lam, líder da Sociedade Israelita da Bahia e o Sheikh Abdul Ahmad, do Centro Cultural Islâmico debatem sobre os conflitos internacionais entre Israel e Palestina, e expõem alguns pontos de vista.





Para assistir na integra clique aqui.

Quando o grupo da CCIB foi questionado sobre as representações negativas, eles argumentaram da importância de diferenciar as pessoas de suas ideologias, no sentido de que pessoas cometem crimes contra a humanidade e elas podem ser muçulmanas, cristãs, espíritas ou o que mais for. Além disso, o Sheikh disse o CCIB participava ativamente de eventos e atividades a favor da diminuição do preconceito, respeito à diversidade e convivência harmoniosa. Um fato curioso é que eles fazem parceria com candomblecistas nessas empreitadas.

Islâmicos, Relacionamentos e Redes Sociais


É interessante notar que as redes sociais ajudam nos relacionamentos interpessoais, no sentido de tornar possível conhecer pessoas que tenham interesses parecidos ou que busquem algo em comum. As redes sociais estão presentes na vida de grande parte da população mundial, e não é diferente para os islâmicos. Redes sociais contribuem para que os muçulmanos conheçam, mantenham contatos e se aproximem de amigos, parentes ou pretendentes que estão em outros locais, assim como os que estão perto.

Devido à algumas reservas que os membros do centro islâmico tem de se aproximar de alguém do seu interesse pessoalmente, eles contam com a ajudinha de redes sociais. Durante nossa visita ao CCIB conhecemos mulheres que conheceram seus parceiros através da rede social Qiran.com, uma delas é casada com um marroquino e diz que foi graças ao site de relacionamentos.

Como já dito em outro post, o número de muçulmanos tem crescido aqui na Bahia, sendo que o número de mulheres adeptas e praticantes em Salvador está um pouco maior do que de homens. Assim, o uso da redes sociais é bastante difundido entre as mulheres. Através de conversas com as mulheres do CCIB pudemos conhecer histórias de amor que aconteceram com ajudinha do site de relacionamentos Qiran.com, que é um site para matrimônio voltado para o público muçulmano.

Abaixo temos a homepage do site, que é similar a qualquer outro site de relacionamentos, porém focalizada para o público muçulmano Uma rede social onde pessoas islâmicas/islâmicos solteiros podem se conhecer, trocar mensagens e se relacionar.

Fonte: Qiran.com

Algumas Curiosidades




Você sabia?


  • Segundo um folder da ONG WAMY estima-se que quase 1/4 da população mundial seja muçulmana. E mais: os árabes representam apenas 18% da população muçulmana mundial.
  • No Brasil, o número de islâmicos é 35.167 de IBGE
  • Segundo Censo Demográfico de 2010 do IBGE 443 pessoas na Bahia declararam ser islâmicas. Dessas, 215 estão em Salvador. No interior a segunda cidade com maior número de adeptos é Ubatã (43), depois Barreiras (35) e Lauro de Freitas (28). 
  • Rio de Janeiro, Salvador e São Bernardo são as cidades onde o número de muçulmanos tem aumentado.
Fonte: Revista ISTOÉ
  • Wilton José de Carvalho - ou Yussuf é baiano e foi o primeiro brasileiro a comandar uma instituição islâmica no Brasil.
Especialistas tratam como fenômeno religioso o fato de cada vez mais brasileiros ascenderem ao topo da hierarquia de entidades muçulmanas. “Em algumas cidades, como Salvador e Recife, centros islâmicos que historicamente eram presididos por muçulmanos de origem árabe hoje têm brasileiros ocupando o posto”, afirma o sheik sírio Jihad Hassan Hammadeh, que preside o conselho de ética da União Nacional Islâmica (Uni).



  • O número de Sheikhs fluentes em português e nascidos no Brasil chamam a atenção. Além do número de mesquitas.
Fonte: Revista ISTOÉ




  • Apesar de algumas pessoas chamar o Centro Cultural Islâmico de Mesquita, ele não é, pois para ser uma mesquita é preciso ter arquitetura adequada Apesar disso, ambos os espaços tem a mesma função: são dedicados a cultos para os seguidores do Islã.
Essa é a Masjid al-Haram ou Mesquita Al-Haram, conhecida como A Grande Mesquita. É a maior mesquita do mundo, fica na cidade de Meca - Arábia Saudita e tem capacidade de abrigar 2 milhões de pessoas.
Fonte: Wikipédia

  • Assim como a mulher tem uma vestimenta, no Islã os homens também tem suas vestimentas sagradas. Bem como um nome sagrado. É taqiyah aquele ‘chapeuzinho’ que o Sheikh está utilizando na foto abaixo, e vestimenta masculina é o thoubh ou a jalabiyah.

         
Cristina - ou Karimah e o Sheikh Abdul Ahmad. Duas das pessoas que nos receberam muito bem nos dias de visita ao Centro.
Fonte: Correio e Wn.com